Imaginem

Acho que bati no fundo com a porcaria da história da casa e não tenho vontade de fazer nada. Para mim acabou. Já chega! Não consigo trabalhar, não consigo dormir. Imaginem que tinham um bebé e que não têm uma casa. Têm tudo aquilo que vos pertence espalhado por diversas casas, dos pais, da prima, dos sogros, algures num armazém que pagam religiosamente todos os meses e do qual nunca viram um recibo. Imaginem que tudo o que querem é não ver as trombas de ninguém quando chegam a casa, excepto o sorriso da vossa filha e o beijo do vosso marido. Imaginem que não vos apetece comer rolo de carne , ou até jantar à mesa, mas têm que o fazer porque não estão em vossa casa. Imaginem que têm que gramar com os gritos, conversas, desavenças e interesses que nada vos dizem. Imaginem que o vosso trabalho exige condições específicas que não podem ser satisfeitas na casa das pessoas que amavelmente vos dão guarida (pais e sogros). Imaginem que o bebé tem 10 meses e que tudo aquilo que sempre sonharam foi dar-lhe um lar calmo e estável, um pai, uma mãe, um sítio para dormir e brincar.

Não consigo fazer mais nada senão pensar no que podia ter mas não tenho. Não falta muito para voltar à dr.ª MP e dizer que não estou bem, que não consigo trabalhar, que choro por tudo e por nada, que odeio toda a gente, que estou irresponsável, que apesar da filha linda que tenho não me apetece muito mais nada. Não ter casa e estar agarrada a uma miragem tem-me destruído todos os dias da minha vida um bocadinho mais. Saber que não posso soltar as amarras e libertar-me de uma estória mal contada, de um bloco de cimento e um bocado de terra, mata-me ainda muito mais. Há coisas que o dinheiro não paga e esta agonia lenta não vale certamente a vida aos retalhos que eu e a minha família temos tido.